A gente podia né, tomar um chá e conversar, um chá daqueles de morango que a gente tomava na varanda... Por hora eu ficaria em silencio e você sorriria pra mim enquanto pensaria: “Eu sabia que ela ia ficar tímida” e eu ia ficar nervosa porque eu sei o quanto o meu silencio te incomoda. Mas sob o efeito do chá ou do meu medo de você me achar uma idiota eu relaxaria e começaria a falar. A gente falaria não sobre o passado, nem sobre tristeza. Contaríamos um ao outro os nossos sonhos e então eu perceberia que eu não sei quem você é, e você o mesmo de mim. Ai a gente teria a leve sensação de que a nossa historia foi um filme, um filme que a gente assistiu cada um no seu quarto, um daqueles filmes que só a trilha sonora faz chorar, daqueles que acabam e você pensa: “Ué, já acabou?”. Um filme que às vezes eu nem lembro mais como foi, só lembro do fim, e lembro também do estrago que ficou em mim depois que o filme acabou. Por fim, o chá esfriaria e você falaria que tem que ir, você iria embora com os mesmos passos que foi da ultima vez, só que com o gosto do chá e de agonia na boca, aí nos despediriamos como dois desconhecidos. E você se tornaria novamente um grande mistério para mim. É a gente podia tomar esse chá um dia desses, a gente podia, mas não vai.