sexta-feira, 20 de março de 2015

Relato de parto.


O primeiro sinal.

Tudo começa na praia, mar azul, céu, areia, risadas, cervejas e um enjoo, o primeiro sinal. Toda vez que entrava no mar tinha uma sensação esquisita de que algo estava acontecendo comigo, sentia uma estranha felicidade de estar no mar, misturada com algo desconhecido. Voltei pra cidade e um amigo estava dando uma festinha, eu só lembro de estar dançando alucinada uma música da Nação Zumbi quando corri ao banheiro e lá vem mais enjoo. Passou-se uma semana e a “ressaca” não passava. Confesso que fiz aquele teste de gravidez por fazer, e lá estava eu em pé com aquela fitinha com as duas famosas tirinhas confirmando o que tava difícil de acreditar, a coisa mais maluca estava pra acontecer na minha vida.



Eu to grávida, e me sentindo incrivelmente bem.

Foi um choque, e quando ele passou eu fiquei tão feliz por saber que estava destinada a cuidar e amar alguém como nunca soube como é. E tudo o que eu mais pensei era me alimentar bem, e no parto, aliais a primeira coisa que fiz antes de começar o pré-natal e saber de quanto tempo estava grávida foi ir na Casa Angela ( Centro de Parto Humanizado) conhecer. Foi numa quarta de manhã, eu, Marco e um frio na barriga, quando entrei lá eu senti que seria lá, que era naquele lugar que eu iria viver o encontro com meu pequeno e foi. Passei a gravidez toda me sentindo sensivelmente bem, chorava em todo filme que via, fui a bastante shows, vi meus amigos, mudei pra um apartamento, li muitos relatos de partos humanizados, ia nas consultas da Casa Angela sempre e assim o dia ficava cada vez mais próximo.



Abril, e o guarda rios.

Martim, por causa daquele passarinho bonito chamado Martim Pescador, também conhecido por guarda rios. Martim meu amor, abril foi tenso. Não conseguia mais pintar nenhum quadro, não conseguia relaxar, só pensava em tê-lo logo em meus braços. Alucinei, toda hora pensava que era hora, e não era. Vieram os benditos pródromos, bota benditos nisso, eles fizeram meu trabalho de parto ser mais de boa, saiu o tampão durante umas duas semanas antes, tive contrações com dores que depois de um tempo paravam.. Quando completou as 40 semanas eu vi que eu precisava relaxar, ficar na minha e esperar, passei muuito tempo na Casa Angela e foi tão gostoso todo acolhimento, pude conhecer quase toda a equipe de todos os horários. Uma semana antes do parto eu fui ao samba da vela, levei meu pequeno pra sambar, foi muito bom, esqueci a ansiedade e depois rolou uma sessão de acupuntura que me relaxou mais ainda. Tava chegando...

Filho da lua cheia.

Domingo, 20 de abril, um show do Tom Zé perdido, casa da mami e meu sobrinho Pierrot deitado na cama comigo. A primeira contração que dava inicio ao trabalho de parto, e passou 
como aquelas ondas fraquinhas. Eu disse a Pierrot (4 anos) que tava sentindo uma dorzinha chata porque achava que Martim tava querendo nascer.  Comecei a acompanhar, tava ritmada. Pierrot me disse que eu tinha que ir na floresta encontrar o curupira pra ele me fazer massagem. Levantei da cama dei um beijo nele e disse que quando ele me visse de novo eu estaria com o Martim nos braços. Eu tava falando serio. Chamei o Marco e disse: "Vamos pra casa Ângela agora!" e ele acostumado com meus alarmes falsos continuou deitado no sofá e disse tem certeza? Eu tinha! Contração pegando dentro do ônibus, e na rua, tava escuro já e eu bastante feliz. Chegando lá, 4 de dilatação, viva!!! Deitei e naveguei nas contrações que aumentavam cada vez mais, minha amiga Alile chegou e tudo ficou mais divertido, ria nos intervalos e me concentrava quando elas voltavam até que... Parece que tinha passado 10 min., mas já haviam passado 2 hrs. Não conseguia mais rir, nem conversar com ninguém, ficava com os olhos fechados. Quando entrei na banheira eu já estava em outra dimensão. Lembrei-me do que meu sobrinho havia dito mais cedo, de ir pra floresta. Eu fui, não encontrei o curupira, mas encontrei algo tão selvagem quanto, que me possuiu, e não fez massagem, mas deixou forte pra entrar na dor. Era virada da lua, o filho da lua cheia tava nascendo.









 
3:00 am dentro do mar tempestuoso.

A vida é forte, e a gente sabe disso quando estamos dentro do mar. Uma onda veio e eu entrei nela, naqueles segundos eu tomei uma dose forte de auto-conhecimento, de empoderamento que jamais havia experimentado na vida, o Marco segurava em minha mão e eu apertava com toda força que tinha, foi quando eu senti que não aguentava mais que eu queria que tudo aquilo acabasse, perguntei pra parteira se tava acabando e ela falou a coisa mais linda que eu ouvi em todo aquele trabalho de parto: “Já, fica calma que eu to até vendo o cabelo do cara” naquele momento ouvir aquilo foi como tomar um ácido esperar bater e começar a dançar. A voz da Billie Holiday tocando no computador me envolvia, e eu mantinha os olhos fechados navegando. Tirei uma força incrível de dentro de mim e depois de alguns minutos eu vi a cabecinha dele, eu encostei nela, cheia de cabelinhos. Veio a vontade de fazer força. Meu passarinho nasceu dia 21 de abril de 2014 as 3:12, à meia luz, dentro da água, tocava uma música bonitinha do Hurtmold, ele veio direto pro meu colo, chorou bem pouquinho e eu mergulhei em alegria e lágrimas de felicidade. Lá ficamos eu olhando pra coisinha mais incrível do planeta deitada em meu peito. Quando o cordão parou do pulsar o Marco cortou, separou meu pequeno de sua casinha, e voltou pra mim, já não havia mais casinha, estávamos começando a criar outro laço, a amamentação, mamou durante uma hora. Eu estava tão radiante, sem noção de realidade, era difícil acreditar no que eu tinha acabado de viver. Enquanto amamentava tive que parir a placenta e que coisinha mais chata é pari ela, mas lá estava ela enfim, toda bonitona. Não dei muita importância a ela depois, e me arrependo queria te-la guardado, mas eu só queria olhar pra Martim. Não dormi naquela noite, eu fiquei com ele na cama deitado em meu peito o olhando, nunca mais parei de olha-lo.








domingo, 21 de julho de 2013


Com os olhinhos pequenos dançando John Coltrane toda desengonçada no meio da sala, me disse que sentia cócegas na alma e o rosto quente, que se sentia no auge de sua lucidez e que podia ouvir todos os instrumentos aguçados lhe fazendo arrepiar todos os pelos.

Um Poema Para Minha Bicicleta



Você que faz os meus olhos fecharem, e o vento bagunçar meus cabelos.
Faz da minha vida desengonçada, um tanto mais equilibrada.
Aqui na cidade longe do mar, Elvira é meu alento.
Amo até os calinhos da minha mão que ela deixa no final do passeio.
Você que se tornou uma caixinha onde guardo só boas sensações.
Você Elvira, verdinha tão linda que me enfia em ruas desconhecidas.
Vaga-lume na escuridão.
E em dias frios me esquenta.
Com o Yann Tiersen no som, e um verdinho na mão parece até cinema.
Ah Elvira, para as nuvens me guia.
Elvira, minha Elvirinha, você é a minha magrelinha.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

No Sense




Você vai bater na porta às 01:32 da manhã com os cabelos pingando de chuva , os lábios molhados e a primeira vista a minha vontade vai ser de beija-los, mas brigamos a noite passada e essa coisa ridícula de o orgulho é seu e a culpa não foi minha vai me fazer ficar na minha e esperar você começar, você já vai entrando porque o comodismo que se criou entre a gente dispensa qualquer pudor que tínhamos no começo, você vai ascender seu cigarro delicadamente e andar em direção a janela "Fuma esse cacete direito, você não precisa ficar com essa pose alá garotinha francesa, pelo menos não pra mim" mas não digo nada o cansaço me deixa sem qualquer palavra. É esse silencio que fode tudo, que queima a garganta e nos deixa cheias de coisas não ditas, coisas que ficam e passam e acabam com a gente. Para de ser cuzona, Elisa. Olha, sabe o que tá estragando tudo? são esses seus desdéns, esses que você não enxerga porque você quer que eu ache que você está pouco se fudendo pra gente, é essa sua frieza que não me esquenta nem debaixo do edredom, são esses seus amigos do teatro que você trás aqui em casa que semprem acabam ficando bêbados falando de todas as pessoas que você já trepou, é você não ligar pra minhas plantas e ficar sempre jogando cinzas de cigarro nelas, é você querer que eu esteja sempre disposta a te fotografar e não percebe que era mais gostoso pra mim te fotografar no começo quando você dormia nua na minha cama sem que você pedisse, é essa sua fuga de tudo, é você sempre querer que a nossa vida juntas seja um filme, todo dia, não aguenta o tédio, a solidão, a falta, não aguenta nada, nem tomar um porre de cachaça e não vomitar. Você não aguenta quando eu te mostro para você mesma, vai dar sua ultima tragada olhar para a cidade enquanto pensa " Ah, foda-se " e vai bater a porta. Vai ligar pra alguém do teatro e ter uma noite de sexo barato e sem graça. Acaba assim, Elisa.

E o que fica em mim são lembranças desconcertantes quando escuto Caetano Veloso A Little More Blue enquanto lavo os meus lençóis com o cheiro do seu sexo.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Eu cantei baixinho, e você dormia. Eu só queria que soubesse o quanto eu acho bonito como as coisas acontecem aqui, e que se eu não digo é porque as palavras estragam tudo.



Em qual parte do seu corpo eu ainda não encostei? eu que me encontrei na fumaça do nosso baseado enquanto um disco riscado de Bethânia rodava. Eu que juntei os meus panos e agora ando pela Marechal Deodoro procurando apartamento, porque a vista de lá nos inspira. Eu me esqueci quem eu sou, e aquele lugar tem algo para me mostrar. Repeti tantas vezes que eu não sou de ferro, sou feita de coração e recebo tudo por inteiro, você não entende. Em qual parte do seu corpo meus lábios ainda não beijou? Você me disse que eu precisava sair dessa de ficar alucinando, fazendo da minha vida uma irrealidade. E eu lhe disse mais uma vez que não sou de aço, minha pele arde, gosto de ficar sozinha botar uma fossa pra ouvir, fumar meu maço de cigarro e beber uma garrafa álcool SOZINHA. Mas você achou tudo uma grande besteira e me puxou para sua vida onde eu não fazia parte de nada e agora minhas tintas a óleo mancham suas roupas e você sempre reclama, e agora você tem cicatrizes na pele de arranhões que os meus gatos fizeram, e agora tens o meu nome tatuado no lábio e agora não existe sequer uma parte no seu corpo, junto de manchinhas de nascença, pintas ou tatuagens que eu não conheça.

domingo, 26 de agosto de 2012


Alguém me perguntou: De todos os lugares do universo, em qual queria estar agora? E eu lhe respondi: Uma vez quando era pequena desenhei aonde eu queria morar, era uma casinha de arvore, distante de todo medo. Uma casa com uma cordinha pra subir e recolher quando já estivesse lá em cima, para não ser incomodada. Protegeria-me do mundo quando as coisas da cidade começassem a me assustar. Um lugar acolhedor, que era iluminado por velas e pela lua à noite, um lugar que eu pudesse respirar. Eu não levaria relógios, nem ousaria em saber que dia era, só saberia das estações, veria as flores nascerem na minha arvore quando fosse primavera, morreria de calor quando fosse verão, observaria flocos de neve caindo quando inverno, e desenharia em folhas secas quando fosse outono. Seria um sonho não seria? Fugir de todo o desassossego, de toda bagunça, viver sem barulho, só ouvir os pássaros cantar. De todos lugares do universo era lá que eu queria estar agora. E quem você levaria? Perguntou-me sorridente. Eu lhe respondi com o mesmo sorriso: Você.