domingo, 26 de agosto de 2012


Alguém me perguntou: De todos os lugares do universo, em qual queria estar agora? E eu lhe respondi: Uma vez quando era pequena desenhei aonde eu queria morar, era uma casinha de arvore, distante de todo medo. Uma casa com uma cordinha pra subir e recolher quando já estivesse lá em cima, para não ser incomodada. Protegeria-me do mundo quando as coisas da cidade começassem a me assustar. Um lugar acolhedor, que era iluminado por velas e pela lua à noite, um lugar que eu pudesse respirar. Eu não levaria relógios, nem ousaria em saber que dia era, só saberia das estações, veria as flores nascerem na minha arvore quando fosse primavera, morreria de calor quando fosse verão, observaria flocos de neve caindo quando inverno, e desenharia em folhas secas quando fosse outono. Seria um sonho não seria? Fugir de todo o desassossego, de toda bagunça, viver sem barulho, só ouvir os pássaros cantar. De todos lugares do universo era lá que eu queria estar agora. E quem você levaria? Perguntou-me sorridente. Eu lhe respondi com o mesmo sorriso: Você.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Um leve frio na barriga, o vento sussurra no ouvido, logo dá pra ver o mar. Andei até poder encostar os pés na areia branquinha, respirei fundo e senti o cheiro salgado, doeu. Cada risada deixada pra mais tarde, cada fechar de olhos calmo, que eu não guardei. Voltei pelo mesmo caminho que eu fiz, quando cheguei adormeci em cima das fotografias, abraçando-as como se eu quisesse resgatar o que já foi, adormeci num sono pesado, que durou três horas, fui acordada pelos tlack tlack da vitrola, e pelos seus lábios mentirosos me pedindo um beijo. Corri e peguei a bicicleta, como uma criança que foge de casa no meio da noite atrás de aventura, atrás de uma dose de sinceridade.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Gatos, luas, estrelas.


Às vezes eu acho que os gatos não olham muito para o céu. Porque se o olhassem, quando uma lua se punha ou uma estrela passasse , eles as tentariam pegar. Porque quando uma fita de cetim roda no ar eles a buscam até sua ultima vida das setes. As vezes quisesse a vida passar, assim como quem só acorda e faz o dia secar, no calendário da vida e não ser o que queria pra si. Eu acho que a que gente precisava viajar, do jeito como quem não tem data certa pra voltar.  Como quem deita na rede e vê o céu escurecer e suas estrelas a piscar. Um gato que não busca a lua e eu que teimo a querê-las, o que será de nós? O que será? Magina, se eu soubesse que teria sete vidas, e na última delas descobrir que quem busca a lua, busca aquilo que dá no peito, e é bom. E nem telhas, nem telhados, nem bolinhas de lã poderia ser igual.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Um dia alguém me disse que seria o meu pássaro, o meu pássaro bem grande que me protegeria debaixo das asas, bobagens. Eu escolhi partir e assim meu pássaro desencanou de me proteger. De que medo tenho me protegido? E se eu ficasse dessa vez?. Me conforta essa ideia de eu sempre poder mudar as coisas. E se eu ficar pra ver aonde vai dar toda essa coisa? Ficar também é escolha? A noite calada e a velha lua que sorri me olham, tá eu fico.

Façamos do nosso peito partido uma colcha de retalhos, juntemos cada pedaço quebrado e quando for possível sorrir novamente com a doçura de antes, deitemos sobre a colcha, descansemos. E se for preciso nos esconderemos debaixo dela até que as coisas que nos afastam lá fora, evaporem.

domingo, 13 de maio de 2012

... E nós abusivos de tudo, viajantes sem mapas, lá fora o tempo que roda, aqui dentro as perguntas que gritam. Quando era criança fiz do quintal de barro o meu forte, eu me protegia. Respiro insegura, mergulho a cabeça, levanto, respiro. Cadê meu forte? Preciso sumir. Respiro, tomo um chá, o disco que roda na vitrola não me responde. Que tal assoprarmos todos esses dentes de leão que tem no quintal? Talvez nossos dias possam mudar. É estranha a sensação de que um ato agora, nosso ou de alguém que entre no nosso caminho, mude tudo. – O que será de mim? Por favor, me cala.

Ele é aquela vontade de comer bolinho de espinafre.

Trouxe a calma como quem fica horas olhando o céu, descobrindo animais feitos de nuvens, andou por cima do mar e me trouxe flores, beijou - me, misturando o seu suéter cheio de pelos de gatos junto ao meu. O tempo parece voltar quando ficamos horas falando sobre a nossa infância, posso ouvir até a voz da minha mãe na cozinha nos chamando pra tomar o café da tarde enquanto rola Charlie Brown and Snoopy na teve. O seu olhar sabotou o nosso destino já traçado, hoje eu esfrego tuas costas no banho, juntamos nossos discos, livros e cheiros, ardemos dia e noite e o meu nome está tatuado no seu lábio de baixo. Fazemos planos, como quem planta um ypê roxo e espera a primavera, para ver tuas bonitas flores brotadas – Eu gosto de te ver dormir.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Pé de cacau.

Experimentei o gosto do alento, como era doce. Quando se punha era amargo. Experimentei-o aos pedaços, calmamente. Como quem experimenta um chocolate, primeiro cheira-se o chocolate, automáticamente os olhos se fecham, um suspiro lento, um (hummmm) e em seguida o devora-se.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

As pessoas vivem de esperas, algumas esperas doem, machucam. Elas se apóiam em previsões, búzios, horóscopos, ou deixam na mão de “deus”. E quando a tal espera não chega elas buscam respostas num livro de auto-ajuda. Sem generalizar, cada espera é única, mas a minha é simples. Eu espero que hoje faça sol quando amanhecer, e que ao meu lado esteja um bico pronto pra me beijar a testa. Espero que ao levantar o quintal ainda esteja perfumado de Dama da Noite, e que eu encontre um bom livro pelo caminho quando eu for trabalhar. Espero que os meus amigos estejam bem, e que eles ainda continuem amanhecendo dançando Rational Culture como nos velhos tempos quando estávamos juntos. Espero que hoje chova, e que possa levar meu vaso de girassol na cestinha da bike pra ele tomar um pouco de chuva. Espero que haja respeito nas ruas, no ônibus, nos trens e que ninguém me olhe com cara de concha no caminho. Espero que sempre exista alguém pra me dar colo, quando eu precisar e vice-versa. Pois eu sinto fome a cada minuto, fome de sorrisos, abraços e palavras bonitas. Eu quero viver tudo num só dia, essa é a minha espera.
As coisas por um fio, o cinzeiro de cigarro derramado no chão, a noite que mudou meus dias, o dia mais triste da sua vida quando tinha oito anos, a insensatez de nunca ter terminado porra nenhuma que comecei, tipo o curso de fotografia, corte& costura, teatro, escola, aulas de violão, Dom Casmurro etc. A arte de fugir das coisas quando elas começam a me machucar, a minha frieza que o incomoda, a insistência em alimentar um sentimento burguês, o silencio desolador, e em meio a tudo isso ,o teu beijo quente na minha nuca em seguida de um abraço por traz que me faz esquecer disso tudo por alguns segundos e me da alento pra continuar e terminar o que comecei.
Me deu vontade naquela hora de ir pra um boteco, pedir uma dose de pinga com limão e chorar, mas minha única reação foi fotografar pessoas tristes, revelá-las e lamentá-las. A arte de não lamentar a mim mesma, meu amigo.
Baseados, chocolates,cervejas, cigarros, mãos, pêlos, vontade de gritar, amar, abraços, danças, musicas bonitas, luzes, filmes, cóceguinhas. E eu não quero mais sair daqui.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Desperta, como se tudo fosse claro e ao mesmo tempo embaraçoso, só e desconfortante. Só que é inavitável a sensação de ter perdido um pouco de mim lá atrás na estrada que decidi pegar, logo me torno vazia pois sinto que quanto mais ando um passo mais minha parte criança some de mim. É ainda mais inevitável a vontade de que o meu corpo seja uma caixa de guardar sensações, onde eu possa consultar em horas como essas. Sinto falta de tudo que tinha em mim.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A foto que não tirei, mas guardei em mim.

Naquele fim de tarde ela se pintou, foi pro quintal com uma fita verde de cetim e começou a dançar Ball And Chain da Janis Joplin, a fita dançava em sua mão, a sua saia rodava, e a gata nos seus pés estava estática vendo a dança da fita. A foto foi exatamente essa, eu da minha janela olhava, a minha mão coçava pelo registro da fotografia, mas não havia filme na câmera, então guardei em mim. Qualquer pessoa que visse aquele fim de tarde não entenderia o efeito que aquilo causou nas duas, e isso não pode ser escrito, fotografado, ou compartilhado. Só elas sabem.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Amo pelos, detesto solidão desnecessária.

A solidão não é mais meu cigarro, há milhões de pelos na minha cama, uns laranjas, brancos, pretos e outros cinzas. Quantos mais afagos mais pelos, menos solidão. E assim cumprimos o nosso importante papel como gatos. Cochilar, brincar, nos protegermos, ver a chuva da janela e enfim nos deliciarmos de carinhos e ronronar até dormir.

Há simplesmente cinco coisas que me calam e me anestesiam:

Primeira: O gosto da erva com o mar a minha frente e com suas ondas lentas indo e vindo.

Segunda: Ouvir ele tirando na escaleta Le Moulin de O Fabuloso Destino de Amelie Poulain.

Terceira: O álbum Haveno da Constantina rolando enquanto faço carinho em sua barba.

Quarta: Andar pelas ruas do Centro embriagada e feliz.

Por fim a quinta: Observar atentamente e por horas os meus gatos.

Tinta, sorvete e Marília.

- Lila, queria ser pra sempre criança

- Só ir pra terra do nunca

- Existe?

- Talvez

- Só se for nos meus sonhos

- Então existe.